quinta-feira, março 15, 2012

No lugar de tudo

A Artur Moraes
Vejo, no espelho-janela,
um homem discreto,
elegante, correto
mas vagabundo
(está certo!)
no fundo etílico de um bolso, junto ao peito.

Verde idílico do olhar,
no canto da boca, um desgosto...
mas no bolso (preste!)
outra canção, outra rima,
amor à vida em forma
de recordação qualquer.
E a rua azeda se colore nas estrelas da camisa,
e a tarde desbotada se desmancha em noite fina,
elegantíssima mesa, na calçada hostil.
- Olha o governo!
Mas rimos de tudo em santa farsa bufa
ele com rimas, eu com queixumes.
Nosso verso é carnaval fora de hora,
nosso verso é funeral de um tio-avô,
é choro solto, é riso amargo,
é só sorriso.
- Chora não, meu amigo... logo passa.
A tarde passa.
O porre passa.
Os quinze anos passam.
São Paulo também passou
e nós ficamos, aqui,
em silêncio.
Mas nosso verso é um silêncio decassílabo,
ou discurso claro e despido de qualquer razão.
É mão no bolso, olhar altivo
- Cuidado com o carro!
- Ô bicho, cê tem um cigarro?
- Vai ser assim a tarde inteira?

Deus queira. Não só a tarde, eterna que seja,
mas ladeira abaixo, vida afora.
A lua roda a saia sobre os copos distantes
e brindo, na bruma
a farsa de tua ausência.

Mal sabe Moscou o que perde...

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