sexta-feira, novembro 23, 2012

Bom-dia

O relógio
 soluça como um pássaro
em meu bolso.               .

Cassiano Ricardo

Bom-dia.
A vida segue a mesma e mais
uma vez faz 15 graus
em novembro
na capital
deste estado lúcido irreal.

"Bom-dia!"
                  te gritam desde o rádio
à padaria. Da firma,
do ralo do banho.
Mas você sabe bem
(e cada olhar só confirma)
o dia que hoje tens.

Dia de ovo, fadiga e carne.
Dia de novo, bom-dia,
não O dia
(ou não-dia).
Finalmente dia
do fim
(ou Dia do até-qu'enfim).
O dia de pouco ausente
e muito bastante.

(Bastar)

Av. Brigadeiro congestionada pelas obras de recapeamento!
Manobras no autódromo.
                                         1º lugar!
Mais uma vez, vida em Marte.
E tem sol e tem sangue em toda parte.

Em São Paulo, faz frio, nada de novo
de novo
             e bom-dia.
Bueiros, placas e ônibus,
sono e tropeços.

Tropical melancolia.

sábado, novembro 17, 2012

Soliturno

A noite, lenta, me molha os pés.
Olhos secos. A sombra
de dois dias me atravessa.

Boca hermética, embora
uma estrela queira sair.
Mas céu de chumbo. Dialética.

E sangue da noite, pingando
as demoras. Como a manhã
que já esboço, pensando.

Mesmo só, ainda posso
inventar companhias de vento
e de pó. Mas me engasga o raiar do dia.

Imensa noite preta e sem magia.