segunda-feira, setembro 19, 2011

Favor que se faz

Poesia é ofício
                      não é solução
nem nada demais.
Mais um chaveiro
                           outra linha
um assunto para a distração
das almas puras
                        com sangue nas unhas
e ódio nas refeições.
(menos aquelas na casa da avó).
O tédio é alfabeto do possível
e se escreve - vira
fato assassinado, crime impune à folha
que tudo aceita
que nada diz, perfeita.
Silêncio branco encerra todo o desejo
desejo de si.

Poesia é ofensa,
                        não é solução,
mais soluço,
gorfo azul de cada sapo do almoço
de cada almoço,
de cada dia,
Dai-nos, Senhor, em verso,
o nojo nosso de cada dia.

segunda-feira, setembro 12, 2011

Inútil cidade

Elevo-me sobre as ruas
na condição: de avenida,
inutilidade pública, máquina.
Elevo-me: só o voo me resta,
no chão já não há porquê
já não há razão que baste.
basta!
Chuto em russo uma pedra
como quem chuta um burguês
em 3d.
O frio é de agosto, mas ando em outubro,
no ano de 1900 não importa quando,
não importa como: acabe!
suplício de fins, de escadas rolantes...
Os cães bem lavados, de barba bem feita, dentes alegres,
riem de mim feito um velho palhaço;
os carros, como fêmeas, sequer sentem meu cheiro.
E fedo, ando,
morro de pressa.
Não creio em Deus, nem no meu verso
ou na possibilidade real de um casamento verdadeiramente feliz e bem-
[-sucedido.
Mas insisto em olhar o céu, olhar,
a espera de um anjo negra,
de olhos verdes,
que comigo exploda a cidade em risos.

A Drummond