domingo, junho 27, 2010

Bravuras não, Bravatas!

"Deus, como é Triste nossa Rússia!" É lógico que, como qualquer mortal de meu tempo, não pude deixar de sentir um grande orgulho quando, em meio a uma grotesca paródia de passeada, com uma mulher com a cara mais estúpida carregando a nossa bandeira nacional (ORDEM E PROGRESSO), me vieram à cabeça as belas palavras de Pushkin, quando da sua leitura de Almas Mortas, de Gógol. Só tinha um problema, claro: não estamos na Rússia... ainda. Mas isso foi resolvido facilmente, com uma frase mais conhecida da intelectualidade tupiniquim, que veio de logo salvar a minha reflexão: "Os Problemas do Brasil são: muita saúva e pouca saúde!" Mário de Andrade me salvou. Mas o importante é a belíssima montagem d' "O Triste Fim de Policarpo Quaderna", do maravilhoso escritor carioca Lima Barreto, pelo diretor Antunes Filho, em cartaz já há algum tempo no SESC Consolação. Bem, eu só vi hoje... mas para os tropicalistas, de copa ou de Petróleo, é imperdível. Um espetáculo do maravilhoso e do grotesco, dos mais belos sonhos do pobre Major Policarpo, em sua empreitada Quixotesca por uma terra que talvez nunca tenha existido, mas pela qual a personagem é capaz de dedicar toda sua vida... e não a dedicação porca dos hinos nacionais, das caipirinhas, e ainda menos da inveja da tédio-democracia progressista báltico-germânica ou do desenvolvimentismo, militar ou lulista, mas sim à idéia ontologicamente problemática de cultura nacional, mais como imanente à experiência de um belo povo de uma bela terra do que como chiclete de Caxias das identidades das Guerras do Paraguai. Confesso nunca ter lido o texto, mas, comparando com o filme (não sei a data, nem o elenco, nem nada. Mas é famoso!) e com o que sei do livro, a peça prima por interpretar de uma forma verdadeiramente gogoliana, ou seja, tragicômica e com dimensões épicas e nacionais. O forte são as construções de imagens sínteses, grandes elaborações simbólicas que expressam, ao mesmo tempo, a brasilidade e o estúpido da brasilidade. Não me demoro mais... só recomendo, e alego que "não ri, chorei. Deus, quanta saúva em nosso Brasil!"