domingo, setembro 30, 2012

Mecanismo

Sou coisa elástica escamosa
(cacos de telha, cabos de aço).
Cresci, ramifico ao acaso
(ou descaso, como me chamo)

As garras tão longas, ferindo a vista...
Me visto de espaço, pano justo,
e não sobra.

Asfixio, remexo, enclausuro.

E me dispo. Penduro
os horizontes no cabide. E lambo
(com faca entre os dentes)
feridas abertas, seus olhos.

Desabrocha o vermelho do sangue.
Não sou mais aço nem pedra nem bicho.
Sou vivo
e morro por isso.

Mau negócio...
Em vez de abraço
prefiro
o luzir do aço.

terça-feira, setembro 18, 2012

Noitivagante

Noite quente, muito quente,
                                            invernal
e azul.
           Luzes
se espalham com estardalhaço.
E Satanás volta das compras.

CASA DAS CAMAS

              Lux - Luminárias
REFEIÇÕES 24H 

Das quais já são 20 agora
no comércio poente. Posto.
Mas o sol se sente, mesmo que ausente.
Desde muito se foi para não
perder a novela das 8.
                                   Deixando nas ruas
um rastro denso de corpo.

Noite quente, muito quente,
                                            invernal
aos inversos.
Parece que o sol não se foi.
Evaporantes remédios com estrondo,
e a chuva dos baldes na calçada....

Já brilha ao alto um céu de postes!
E lá se apeiam cupins
feito os povos no ômnibus paquiderme.

Noite quente, muito quente,
                                             pálida
curiosamente.
Por hoje nada mais se vende,
                                               além
de semanas-que-vêm. Não há trabalho.
Vem um ônibus,
                          me deixa...
Vêm pernas,
                     atravessam-me...
Passa a ROTA
                        me procura?
Eu? Lânguido num dia útil, no meio
de frutas podres? mãos? gritos?

Noite quente, muito quente,
                                            perfeita
pros cupinzinhos. No vão das ruas
como dançam!
De mim só sobrou a loucura
girando ao redor dos postes.