sexta-feira, maio 11, 2012

Por ocasião do 1º de Maio junto aos camaradas Vladimires




Às três e tantas de um 1º de maio
me sento
              em frente
à Estação
               de Outubro da capital
da Federação Russa.
Há vinte anos
dir-se-ia
da União Soviética.
Mais outros setenta e Vladímir
talvez me acompanhesse,
o tal Maiakóvski
que aqui também se sentou
escreveu
e fundiu linhas de ferro
e tinta
do país dos sovietes,
O tal Maiakóvski,
que aqui também se matou
mas em outra estação,
                                  Lubianka,
no norte da linha vermelha.
Em maio, talvez, ou outubro,
noutra estação - a de Outono,
sob a folhagem do aço.
Quem sabe Vladímir
não se sentasse ao meu lado,
me lesse
e dissesse
               "Camarada!
que enfado! Que verso sem força!
Vem que te mostro
                              o que temos
feito.
Palavras com força e firmeza de fórmulas
e textura de flor."
Mas aqui estou só
                             na capital
de mais outra federação
de estados, poderes, horários,
construções sintáticas e de cimento armado.
A primavera transborda, o feriado passa,
o tráfego flue com a habitual lentidão.
E outro Vladímir ao meu lado observa,
este de pedra, calado,
diante de "Hitachi
          Inspire the next"
     (e embaixo a estação de metrô)
e arranhacéus escalando horizontes
de sempre.
Este morreu em silêncio
e seu corpo agoniza na praça Vermelha
e sua alma trafega num projeto sem cor
e sem tempo.
"Há trinta anos, talvez..."
                                       Mas se cala
mirando o passado...
Trabalhadores fantasmas festejam em seu pedestal.
Os vivos descansam.
Mais uma semana e são quase setenta
anos da vitória contra os alemães
de Hitler. Que não tem estátuas.
Quando o poeta enviou seu telegrama
em forma de rosa e de lâmina.
Quando o mundo era outro e o mesmo
de ontem,
                30 de abril
ou 1º
        em 64.
"Oh meu Brasil..."
A tarde se esvai.
Restam prédios, livros, estátuas.
O trem monotrilha em sentidos comuns.
Repito a tragédia dos anos
e dirijo-me
                às cinco e tantas
de volta à mesma estação sob a Terra,
de pano, de tempo, e granito.

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