sexta-feira, maio 13, 2011

Na frente do carro: os bois.

Acaso
o infinito em minha frente,
e em cada ruga do rosto
uma trincheira no fronte
Ocidental.

Talvez
a vastidão que pende das janelas
das quais em nenhuma ela se encontra.
E vem de encontro mesmo assim,
vem no vento, que entra pelas bordas
de meus olhos fechados
a toda poeira, ao ruído das ruas
de cada imensa janela.

Vá lá!
pode ser que volte
depois de tanto andar,
pode bem querer me ver
não só pela vista dos cantos,
pela janela do carro,
ou pela tela do micro.
Mas pela teia do mundo
em cores, em tempo real.
E sabe que pode. Há tempo?
Lá, no fim dessa tarde,
talvez. Não se vá.

Quem sabe?

-não fique tudo na mesma...
-ou que horas são agora
-não vem porque não quer
não vir - que eu vá,
quem sabe
quantos carros já passaram
neste minuto infinito,
nesta hora. Qual era?
quem sabe:
no fim tudo passe.
lá venha ela.
eu sei lá.
a falta que ela me faz?
será?

E só
é só isso de espera
no espaço e no tempo:
cidade que finda com a tarde
de sol, de nuvem
de notas... de susto
quando tudo se deu por vencido,
mesmo esboçado
o horizonte infinito (no tempo
em linha) no espaço curvo
do além, da lua sobre o Ocidente
sobre tudo que não veio,
e só.

2 comentários:

  1. Achei difícil encontrar a unidade do poema, algum nexo entre as estrofes, mas não me parece um defeito, me parece proposital, o problema (ou a questão, depende do ponto de vista) é que você fica constantemente sugerindo padrões formais mas não os segue, ou seja, eles só duram uma estrofe, e isso é aquela volatilidade, aquele tudo mudar muito rápido, de que o Bauman fala. Dos versos o que eu mais gostei foi "uma trincheira no fronte Ocidental", engraçado, o fronte Ocidental é Ocidental para os alemães, mas oriental para os russos, não? daí a chave do infinito que você vê como possibilidade mas teme, ou seja, reconhece que não está dado de graça, que precisa ser conquistado, e então se propõe um objetivo, uma garota, acho, mas você permanece titubeando, é esse o destino, o objetivo, há um objetivo, mas se é infinito, não seriam infinitos objetivos? ou uma força infinita para poder realizar esse objetivo, um poder errar infinitas vezes menos uma, para na última acertar, ou não. isso de espaço curvo é interessante, hoje eu assisti de madrugada no TV 5 Monde um documentário sobre o M.C. Escher, sobre um matemático que resolveu terminar aquele quadro do Escher da galeria, onde tem um buraco branco no meio, supostamente inacabável. Mas a partir de umas teorias matemáticas doidas eles conseguiram acabar o meio do quadro, e o resultado é que dá um ciclo infinito, se você ficar dando zoom no meio sempre vai voltar ao quadro inicial, o quadro dentro do quadro, eterno retorno, estou super-nietzscheano hoje, é aquela coisa da passagem da adolescência pra pós-adolescência, da modernidade pra pós-modernidade, mas sem chegar ao adulto da coisa, haha... "Quem sabe no fim tudo passe, lá venha ela", ou seja, o infinito não é garantia de nada, o amor precisa ser finito, mas ter que aturar essa (também finita) espera e crê-la infinita é um peso insuportável, não? se infinito crido, ao menos.

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  2. Pegou no nervo! O problema é tudo ser quebradiço mesmo, mas deixei assim... o enquanto da espera, querer ver alguma coisa onde não tem nada, ou pior, talvez tenha - o próprio talvez... mas é tudo viagem.

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