domingo, janeiro 15, 2012

Ode a Piratininga

A Mário de Andrade

São Paulo!
Desgosto verde-amarelado,
Estado de militares e engenheiros,
terra vermelha de sangue
herdeira do bandeirantismo!

Eu, paulista, te cuspo e renego!
Meu ódio é o cheiro de bosta
que corre numa rua do Centro
ao sábado Paulista
de passeio e cinema
dos Jardins às Perdizes.
Eu te abomino! Estado de panças
odeio seus pais de famílias e seus telejornais,
cuspo no imigrante enricado
no seu trabalho suado
catarro nas fábricas de automóveis e nas agências de importação!

Modernos Borba Gatos, unhas de fome e gravata,
eu vos afogo no Tietê!
E vivam as águas do Tietê!

Mulato erudito, filho da terra,
eu faço-lhe eco: insulto o burguês e a baronesa
o homem av. Paulista
o homem nádegas!
Insulto os criminosos de mãos limpas e título de eleitor,
Xingo suas esposas perfumadas de pentelhos alisados
E seus filhos bêbados nos engarrafamentos de sábado à noite!
Insulto seus governantes elegantes e cautelosos,
Insulto o pagador de impostos chorão
E mais do que todos insulto o artista, o estudante
cuspo em seus livros e Vilas Madalena
por sempre olhar todos por cima
por sempre entoar as mesmíssimas cantilenas!

Fogo nas pizzas de sextas-feiras! Fogo nos Datenas! Fogo nos cinemas!
Explodam-se as Salas São Paulo e os Conjuntos Nacionais,
os Shoppings Bourbon e os parques Trianon.
Inundem as avenidas do Estado!
E vivam as águas do Tamanduateí!

Chega de bandeirantismo imobiliário!
Abaixo à Ordem policial!
Abaixo o Progresso industrial!
Abaixo o orgulho dos fabricantes de parafusos!
E também esse nosso incurável orgulho...
Você é pobre, São Paulo,
apesar dos não sei quantos por cento de participação no PIB nacional...
Pobre do Brasil, que perdeu,
a chance de te perder em 1932!

Enlatem o soldado desconhecido,
o barão do café,
os Matarazzo, os Fernões Dias Paes,
os Bonifácios e os Paulos Maluf!
Que apodreçam no rio Pinheiros!
E vivam as águas do rio Pinheiros!

Fogueira com a República do Rodoanel com leite!
A avenida São João é o nosso maior monumento,
depois da hipocrisia e da Faculdade de Engenharia.
Contribuímos anualmente com decorações de natal sub-americanas
e sérios candidatos à presidência da
República, de nossas praias.
O carioca é malandro...
O baiano é folgado...
O mineiro é traiçoeiro...
O pernambucano é metido...
O gaúcho é abusado...

Mas eu, paulista da nata, tenho o dom da preguiça,
não a da nata, dos Macunaímas,
preguiça sem graça. Preguiça metida.
Até os pombos daqui pecam no orgulho:
sentam-se, obesos, no alto de seus edifícios ou fios elétricos,
admiram a civilização
e esperam a morte chegar.

Há morte! A morte, São Paulo, virá,
um dia, todo seu lixo
com toda essa infâmia
vai borbulhar dos seus rios, que tentou
em vão, se livrar.
Tietê, Tamanduateí e Pinheiros
tarde de chuva e de trânsito
ainda hão de gorfar Marginais afora
todo esse nosso nojo
e esporrar na cara da av. Paulista
como num filme pornô americano.

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