segunda-feira, setembro 12, 2011

Inútil cidade

Elevo-me sobre as ruas
na condição: de avenida,
inutilidade pública, máquina.
Elevo-me: só o voo me resta,
no chão já não há porquê
já não há razão que baste.
basta!
Chuto em russo uma pedra
como quem chuta um burguês
em 3d.
O frio é de agosto, mas ando em outubro,
no ano de 1900 não importa quando,
não importa como: acabe!
suplício de fins, de escadas rolantes...
Os cães bem lavados, de barba bem feita, dentes alegres,
riem de mim feito um velho palhaço;
os carros, como fêmeas, sequer sentem meu cheiro.
E fedo, ando,
morro de pressa.
Não creio em Deus, nem no meu verso
ou na possibilidade real de um casamento verdadeiramente feliz e bem-
[-sucedido.
Mas insisto em olhar o céu, olhar,
a espera de um anjo negra,
de olhos verdes,
que comigo exploda a cidade em risos.

A Drummond

Um comentário:

  1. Não sei nem o que comentar Pedro. Achei realmente um dos seus melhores poemas, desde coisas da sua própria vivência até os versos da vivencia urbana e cotidiana, com características de nossos papos e da nossa vida com nossos amigos! Incrível a forma com que você relaciona tua leitura de alguns poemas da obra do Drummond e tua vida e, também a expressão lírica que você consegue executar em meio a toda esse mistura! Amei! acho que é meu preferido! me emocionei demais!

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